Luto Não Reconhecido: LGBTQIA+
- perdaselutopsi
- 23 de mar.
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A homofobia é crime no Brasil desde 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu equipará-la ao crime de racismo. Mas mesmo sendo crime, o Brasil segue no topo da pirâmide da violência contra a população LGBTQIA+.
O Ministério dos Direitos Humanos, em 2017, identificou que a maior parte das denúncias das pessoas LGBTQIA+ diz respeito à violência psicológica. Essa categoria inclui atos de ameaça, humilhação e bullying. Em segundo lugar estão os crimes de discriminação – por conta do gênero e/ou sexualidade de um indivíduo em diversas esferas, como na da saúde e do trabalho. Já em terceiro lugar está a violência física – que inclui desde a lesão corporal até o homicídio.
Em 2023 o Brasil registrou o maior número de homicídios e suicídios da população LGBTQIA+ no planeta e das 257 vítimas, 127 eram travestis e transgêneros, 118 eram gays, 9 lésbicas e 3 bissexuais. Estima-se que jovens rejeitados por sua família por serem LGBTQIA+ têm 8,4 vezes mais chances de tentarem suicídio.
O suicídio é multifatorial e uma única causa não pode ser atribuída, mas é importante destacar que este grupo luta contra o estigma e a discriminação, e muitas vezes este embate ocorre dentro da própria família. Isso tem um efeito negativo na escola e no trabalho, bem como no acesso aos serviços de saúde. Como consequência, é um grupo que pode ter taxas mais altas de problemas de saúde física e mental.
Todos esses dados acendem o alerta para as diversas perdas que este grupo soma ao longo de sua vida, dentre elas a perda da própria identidade. Com medo da reação de parentes, amigos e colegas de trabalho, muitos preferem não se assumir, enquanto muitos outros pagam um preço alto por expor sua orientação sexual.
Este é um luto não reconhecido. De acordo com Doka (1999), o “luto não reconhecido” é quando, por impedimentos sociais, este luto não é publicamente reconhecido. Esta falta de reconhecimento traz consigo a problemática de uma existência sem valor.
Logo, independente da orientação sexual se tornar ou não pública, este grupo lida com a perda de amigos, perda de emprego e perda da própria família. Há também o luto da sua identidade heterossexual, que lhe foi imputada por tantos anos, desde criança, e que aos poucos precisa ir sendo renunciada. Pode haver o luto do casamento, por muitos preferirem não expor a união, de filhos para aqueles que desconsiderarem esta opção, o luto pela aceitação familiar e também o luto pelas relações sociais, que passam a estar impregnadas de preconceitos.
Muitos saem de casa ainda jovens, temendo a reação dos pais, outros são expulsos e ambos podem conviver com o medo de um dia precisar voltar para a casa e não serem bem recebidos. É muito comum que os membros familiares acabem inferiorizando a orientação sexual “diferente”, com o discurso de que a querem proteger das opressões e pressões que a sociedade irá impor a ela. Todo esse contexto punitivo tem ação direta nas experiências sociais e nas relações de maior confiança, como relações afetivo-sexuais, da pessoa que está sendo desrespeitada. Há ainda o luto por todos os momentos felizes vividos e que não podem ser compartilhados, divididos, pela falta de espaço e aceitação da própria família.
O luto não é linear e muitos sentimentos podem surgir conforme acontecimentos importantes surgem. É importante reconhecer este aspecto do luto e entender como estes acontecimentos influenciam na reconstrução da sua própria identidade.
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